Dor-de-cotovelo

Depois do anúncio da eleição do Cristo em terceiro lugar, muito tem se falado sobre a votação.
Alguns dizem que foi injusta, uns que votar pela internet não significa nada e outros que o Cristo não é uma maravilha...
Espanhóis, egípcios, paulistas, todo mundo resolveu chiar depois do resultado.

Na verdade, eu acho que essa gente está com dor-de-cotovelo. Invejinha, sabe?

Primeiro que a votação foi totalmente válida. A regra que valeu aqui valeu em qualquer outro lugar do mundo. Se os espanhóis não conseguiram eleger sua Alhambra, paciência. Não adianta dizer que o torpedo lá era caro por 80% dos votos foram pela web.
E nem me venham com esse história de que o Brasil tem muito mais habitantes do que a Grécia porque, se fosse assim, Jordânia e Peru estariam fudidos.

Quanto ao caráter não-científico da eleição, a proposta era essa mesmo: uma VOTAÇÃO aberta.
Se fosse pra ter caráter científico, histórico ou meu cu frio qualquer, teriam chamado meia dúzia de arquitetos, decoradores, historiadores, professores e pronto: cada um daria seu voto e teríamos as 250 maravilhas do mundo moderno, passado e ultrapassado. Ninguém precisaria gastar o dedão discando pra votar em nada.
Mas vejam vocês...na democracia, nem sempre quem a gente quer ganha.
Olha o Serra. Alguém quer MESMO votar nele?! Não! Mas ele sempre ganha, tá aí há séculos...

Que a estátua em si não tem essa beleza toda, vá lá. Mas nada se compara - no mundo inteiro - a tudo aquilo que emoldura o Cristo. Não há o que se comparar aquela baranga verde hor-ro-ro-sa no meio do mar de Nova York com o Redentor, no topo do Corcovado, de braços abertos e com a cidade inteira a seus pés.
E, queiram ou não, é o ponto turístico mais associado ao Brasil.
Sorry, periferia.

A única injustiça que eu aceito seria com Acrópole.
Mas, mesmo assim, digo que não ganhou porque não quiseram. Ou talvez a Grécia (e a França com sua Torre Eiffel e os EUA com a Estátua da Liberdade) esteja se fudendo pra essa votação, já que em absolutamente nada vai mudar a visão de estrangeiros ou o número de turistas nesses países.

Talvez por isso tenham sido eleitos países que querem chamar atenção do mundo por todas as suas belezes, construindo uma imagem e ganhando muito aqué - México e China, além dos já citados Peru, Brasil e Jordânia.
(Li um secretário de turismo mexicano dizendo que era a chance do mundo conhecer a cultura do país além de ser um destino de praia para as férias).

Meus 5 votos foram pensando exatamente nisso: uma ótima propaganda de graça!
Significa - e muito - estar na capa do NYTimes, Le Monde, Figaro, Corriere de La Sierra e Folha de São Paulo ao mesmo tempo, sem que nenhum desses estivessem falando absolutamente nenhuma vírgula além da beleza natural da cidade e da vitória do Cristo.

Um exemplo? Minha ameega reeca e pheeena Raq está em um tour cultural pela Europa.
Por coincidência, passou na porta do estádio do Benfica no sábado, horas antes do anúncio da eleição. Ingressos carérrimos, shows espectaculares, basfond em Lisboa. Não se fala em outra coisa em terras portuguesas senão nas 7 novas maravilhas do mundo.

E eu ainda li que isso é uma tentativa de "encobrir" o verdadeiro caos da cidade.
Ah, gente, pelamór...que inveja uó.
Alguém dizer que não vem pra cá porque tem medo da cidade é o cúmulo da ignorância e do desconhecimento. Tá aí o Lenny Kravitz que não me deixa mentir: show na praia, ensaio na Mangueira, japonês no Nakombi do Jardim Botânico, samba no Carioca da Gema da Lapa, festa na casa de Caetano... arrozoizando tudo sem medo de bala perdida!

No alto dos meus 23 anos, nunca - toc, toc, toc - fui assaltado nessa cidade.
Isso não quer dizer nada. É claro que conheço inúmeros de casos de violência - de roubo de celular a bala perdida - mas tenho tanto medo de andar de carro e parar no sinal vermelho no Rio quanto em São Paulo (e aqui não tem seqüestro relâmpago). Ou caminhar no centro daqui, de Manaus ou de Recife... sabiam que a Grande Vitória tem um crime organizado tão forte quanto o paulista ou o carioca? Pois é...

Óbvio que o o nivel da violência aqui é mais pesado: a proximidade com a pobreza é maior e o poder do tráfico é enorme.
Mas, se não me engano, muitos dos últimos fatos chocantes que li no jornal - de francês assassinado em bairro chique a turista morto em frente ao filho na praia - foram registrados em delegacias fora do Estado do Rio de Janeiro.

O Rio potencializou a violência diante do empobrecimento do estado e do total abandono dos últimos governos - federal, estadual e municial, diga-se (esse último tá aí até hoje, aff!) - e muita coisa precisa ser feita pra começarmos a mudar um pouquinho.

Resumindo tudo:
Nas próximas eleições, indicarei o Viaduto de Chá ou o Minhocão pra maravilha do mundo, tá?

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Tô brincando.
Os paulistas mais ixpertos a-do-ram o Rio. Vide a invasão cada vez mais freqüentes nos finais-de-semana.
Além do Almada, Rogerio Fasano vem aí de novo, babadex com aquele hotelzíssimo em Ipanema-quase-Arpoador.

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Repito: continuo, apesar dos pesares, torcendo pelo sucesso do Pan e pela retomada do glamour, poder e glória cariocas.

E já mandei pendurar uma figa, um olho-de-boi e um galho de arruda debaixo do Cristo.
Por via das dúvidas, é melhor não arriscar.