Faz Diferença
O Globo é aquele típico jornal carioca: classe média, simpático, provinciano, politizado, bairrista, morador da zona sul que quer ser descolado sem se descuidar da tradição. Ao mesmo tempo em que faz uma matéria exaltando os descendentes da tradicional família Orleans e Bragança, diz que freqüenta o underground fetichista de Copacabana, visita – mesmo que superficialmente - as barbáries do tráfico da favela da Maré e concede seus três garfinhos ao restaurante moderninho da Dias Ferreira.
Se nos restringirmos à dupla cultura e comportamento, o resto do Estado – quiçá do país – é praticamente inexistente aos olhos do jornal.
Mas isso é só pra tentar entender como pensa o pessoal daquela redação.
As eleições norte-americanas colocaram os jornalistas numa verdadeira sinuca-de-bico: como se referir a Barack Obana, pré-candidato ao governo do país, e desconhecido por esses lados?
Exemplifico pra ficar mais fácil.
Ta na capa de hoje, sobre as prévias em New Hampshire: “Duas pesquisas divulgadas hoje mostram Hillary e Obama empatados nas primárias (...). Uma terceira sondagem, no entanto, indicou uma vitória do senador negro”.
Parou.
Pegunto: há mesmo a necessidade de se adjetivar o senador em virtude da raça/cor da pele/etnia (seja lá qual for maneira mais correta)?
Claro que eu já estava mais do que acostumado a ver situação parecida em textos do estilo “Delanoë, o prefeito gay de Paris, vem passar o Carnaval no Rio”, como se a orientação sexual do prefeito tivesse influência no cargo que ele ocupa ou pra qual parte do mundo ele fosse viajar, mas se tratando de raça é a primeira vez que eu vejo algo tão gritantemente insensível.
Não me levem a mal. Não é questão de ser politicamente correto, até porque eu não sou nada assim, mas não acho que essa seja uma situação pra se especificar tal coisa sem algum motivo necessário à reportagem. Não me causaria espanto um texto com “Obama, que se eleito será o primeiro presidente negro dos EUA...” ou “Delanoë que, apesar de homossexual assumido, não é engajado politicamente em causas gays...” ou o que o valha.
Despreparo? Talvez.
Mesmo assim, por mais que eu tente, não consigo enxergar uma manchete dizendo que “a senadora e ex-primeira-dama loira e de olhos azuis avança na Califórnia” ou que “o prefeito heterossexual de NY, Michael Bloomberg, anunciou novas medidas de segurança”.
Sempre chio quando vejo esse tipo de jornalismo que foge do puro e simples relato e deixa transparecer idéias pré-concebidas e opiniões próprias. E olha que nem acho que possam ser homofóbicas ou racistas. Mas quase sempre soam preconceituosas.
segunda-feira, janeiro 07, 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Não soa, é preconceito! Na sua forma mais sensível, invisível ou mascarado.
Não vou entrar nesta questão, sou assinante do jornal, e como vc, já vi de tudo um pouco. Enfatizar que o candidato é negro mostra aquela visão restrita e até miope que todos temos em maior ou menor grau. Eu, vc, a bee da esquina, o editor do jornal.
Por que não parar só no "senador"? Já faria diferença por ele ser um homem concorrendo com uma mulher.
O mundo precisa desesperadamente de seus esteriótipos.
ih gato, se acostume.
Aqui em sampa, temos um jornal que adora dar seus pitacos e influenciar, ora querendo ser cool, adotando uma postura centrista levemente para a esquerda, porquê a direita é uó, é a burguesia, é careta, etc etc etc...
Concordo com você, basta noticiar e ponto final.
Pra mim, ultimamente o melhor jornal é aquele publi METRO, que tem distribuição gratuita, é basiquéti, e quem não pega na rua, no farol, pode ler na net.
Ah, pera aí.... Acho que você deveria ler um determinado jornal que se intitula o "maior" do país. Pára com isso, né???
Quer ver algo pior? Vá na página de internet do jornal e leia os comentários das notícias. Que vontade de jogar uma bomba no Centro/Zona Sul...
Enviar um comentário